Cultivando um sonho: a história de Harvest Moon
Quando você analisa o mundo dos videogames, não é muito difícil prever o que pode ou não fazer sucesso. Jogos de plataforma com mascotes carismáticos, simuladores de guerra realistas, RPGs com enredos bem elaborados ou franquias de esportes populares são sempre produtos que, por sua própria natureza, possuem um apelo especial que acaba agradando a maioria dos jogadores. No entanto, de tempos em tempos, surge algo que, contrariando toda a lógica de mercado, consegue conquistar fãs. Hoje falaremos de Harvest Moon, um desses casos atípicos. Então regue suas plantas, pegue um copo de leite da fazenda e vamos juntos conhecer mais sobre essa franquia fantástica!
Afinal, quando o primeiro Harvest Moon chegou às lojas, não existia nada similar no mercado. Unindo os elementos de administração, finanças e crescimento de propriedades de SimCity, com o desenvolvimento de personagens típico dos RPGs japoneses, o jogo encantou a todos com sua identidade única e apaixonante. Mas por pouco ele não passou batido e acabou esquecido no canto empoeirado das locadoras de games da época. Se você anda fazendo sua lição de casa sobre história dos videogames, deve saber que o ano de 1996 marcou a chegada do Nintendo 64 ao mercado, e a Big N iniciava uma ferrenha briga com a Sony e seu PlayStation pela preferência dos jogadores. Alheia a tudo isso, a Natsume lançava um inocente e despretensioso simulador de fazendas para o Super Nintendo. Tinha tudo para encalhar e fracassar miseravelmente em vendas, mas miraculosamente isso não ocorreu. Será essa a prova de que o trabalho árduo sempre acaba valendo a pena?
Ironicamente, nem tudo foram flores nessa empreitada. Harvest Moon quase não foi lançado no Super Nintendo devido à falta de verba e à saída de vários funcionários da equipe de desenvolvimento do jogo. De acordo com o próprio Wada, em entrevista para a extinta revista Edge nacional, em sua edição 17, “o time se desmanchou durante a última fase do projeto. Nós estávamos trabalhando na produção com uma empresa de fora, e essa empresa foi à falência. (…) Sempre foi minha intenção terminar e lançar Harvest Moon. Eu acabei dando os toques finais ao jogo como diretor. Na segunda metade do último ano de desenvolvimento, três pessoas, contando comigo, completaram jogo”. Ou seja, nem falências nem uma debandada geral da equipe fizeram com que Wada desistisse de seu sonho. Mesmo com apenas três pessoas trabalhando na equipe final, o jogo viu a luz do dia, já no fim da geração 16 bits. O rapaz que tinha deixado o campo e chegado a Tóquio estava realmente disposto a regressar à natureza e nos levar junto com ele nesse passeio. E foi assim que nasceu o jogo sobre um fazendeiro que precisa trabalhar para construir seu sonho do zero. Essa é a história de Harvest Moon e também, ao que parece, a história do próprio Wada.
A série também conseguiu a proeza de ter lançamentos para todos os portáteis da Big N. Inicialmente, tivemos uma trilogia nos moldes do jogo original para Game Boy e Game Boy Color, onde finalmente foi revelado que o nome do personagem principal da série é Pete. Depois, no Game Boy Advance, tivemos Friends of Mineral Town e More Friends of Mineral Town, um "pacote de expansão" com clima mais feminino para agradar as garotas. No Nintendo DS também tivemos uma boa safra de jogos: Harvest Moon DS, Sunshine Islands, Island of Happiness e Grand Bazaar. Por fim, o portátil do momento, o 3DS, até por ser muito novinho ainda, recebeu somente The Tale of Two Towns.
Além de todas essas entradas na série principal, temos também um bocado de spin-offs. O mais notório deles é Rune Factory, que acabou virando uma franquia com identidade própria. Nele, além de administrar fazendas, é preciso explorar dungeons e combater monstros, o que garante bastante variedade. Por fim, tivemos também alguns jogos exóticos, como Puzzle de Harvest Moon, para DS e My Little Shop, para WiiWare, que entregam, respectivamente, puzzles e minigames. Mas a maior curiosidade da série foram os quatro episódios lançados para o Satellaview (um modem via satélite) da Nintendo, uma exclusividade para os japoneses donos do Super Famicom. Ufa, haja jogo, hein? Quem olha assim até deve pensar que a Natsume tem uma árvore de Harvest Moons no quintal, e que a cada ano cai dela um novo fruto delicioso! O que você está esperando para curtir um desses suculentos jogos? Seja lá qual deles você escolher, pode ter certeza: você vai se divertir pra valer, e nunca mais vai olhar para a vida no campo do mesmo jeito.
O tempo inteiro o jogo estimula e gratifica o jogador por seu trabalho e suas boas ações. Faça carinho em suas vacas diariamente, e elas darão um leite de melhor qualidade, que pode ser vendido por um valor maior. Regue suas plantas duas ou três vezes ao dia e veja as sementes crescendo com maior rapidez. Converse com os outros habitantes da cidade e logo estará cheio de amigos (e possivelmente com um interesse amoroso à vista!). Tudo dá certo quando você tem boas intenções. Perdoe-me se isso soar inocente demais neste mundo violento e caótico de hoje, mas o que torna Harvest Moon tão cativante é justamente o fato de que o jogo, possivelmente mais do que qualquer outro no mercado, consegue resgatar aqueles valores utópicos e pueris que os contos de fadas transmitiam em nossas infâncias. Em Harvest Moon não há espaço para o mal. O trabalho duro sempre se converte necessariamente em sucesso. Os humanos e os animais convivem em perfeita harmonia. A natureza prospera. Em alguma medida, todos crescemos desejando que esse tipo de vida seja verdade. Com o tempo, infelizmente surgem outras prioridades e preocupações, e acabamos deixando nossos desejos e princípios mais básicos de lado. Harvest Moon conversa com a criança dentro de você, e mostra que o campo dos sonhos sempre pode estar a seu alcance, mesmo que às vezes você se esqueça disso em sua agitada vida na metrópole.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cultivas
Hoje em dia, os jogos freemium (aqueles que você joga de graça, mas pode gastar um dinheiro por fora com recursos extras para aprimorar a experiência) são uma verdadeira febre, e você provavelmente tem algum amigo ou amiga que é viciado naqueles “simuladores de fazendinha” para redes sociais. Farmville e seus derivados por um bom tempo movimentaram uma grana imensa, e não seria absurdo algum admitir que, não fosse pela Natsume e por Yasuhiro Wada terem topado o desafio de, lá no distante ano de 1996, lançar um simpático cartucho sobre um garoto do campo que precisava erguer uma fazenda do zero, provavelmente Farmville nunca teria visto a luz do dia.Afinal, quando o primeiro Harvest Moon chegou às lojas, não existia nada similar no mercado. Unindo os elementos de administração, finanças e crescimento de propriedades de SimCity, com o desenvolvimento de personagens típico dos RPGs japoneses, o jogo encantou a todos com sua identidade única e apaixonante. Mas por pouco ele não passou batido e acabou esquecido no canto empoeirado das locadoras de games da época. Se você anda fazendo sua lição de casa sobre história dos videogames, deve saber que o ano de 1996 marcou a chegada do Nintendo 64 ao mercado, e a Big N iniciava uma ferrenha briga com a Sony e seu PlayStation pela preferência dos jogadores. Alheia a tudo isso, a Natsume lançava um inocente e despretensioso simulador de fazendas para o Super Nintendo. Tinha tudo para encalhar e fracassar miseravelmente em vendas, mas miraculosamente isso não ocorreu. Será essa a prova de que o trabalho árduo sempre acaba valendo a pena?
Lá e de volta outra vez
Harvest Moon foi concebido pela mente de Yasuhiro Wada, um simpático oriental que trabalha com videogames há mais de vinte anos. A ideia da série veio quando ele se mudou do interior do Japão para a enorme metrópole de Tóquio, onde acabou descobrindo as grandes diferenças entre a vida no campo e na cidade. Embora não estivesse necessariamente frustrado com a agitada vida urbana, Wada sentia falta dos valores e características peculiares da vida mais humilde em contato com a natureza, e percebeu que as pessoas à sua volta talvez não tivessem ideia das maravilhas do campo. Fã declarado da série Zelda, Wada encontrou justamente nos RPGs a forma ideal de transmitir ao mundo sua mensagem sobre as maravilhas da vida rural.Ironicamente, nem tudo foram flores nessa empreitada. Harvest Moon quase não foi lançado no Super Nintendo devido à falta de verba e à saída de vários funcionários da equipe de desenvolvimento do jogo. De acordo com o próprio Wada, em entrevista para a extinta revista Edge nacional, em sua edição 17, “o time se desmanchou durante a última fase do projeto. Nós estávamos trabalhando na produção com uma empresa de fora, e essa empresa foi à falência. (…) Sempre foi minha intenção terminar e lançar Harvest Moon. Eu acabei dando os toques finais ao jogo como diretor. Na segunda metade do último ano de desenvolvimento, três pessoas, contando comigo, completaram jogo”. Ou seja, nem falências nem uma debandada geral da equipe fizeram com que Wada desistisse de seu sonho. Mesmo com apenas três pessoas trabalhando na equipe final, o jogo viu a luz do dia, já no fim da geração 16 bits. O rapaz que tinha deixado o campo e chegado a Tóquio estava realmente disposto a regressar à natureza e nos levar junto com ele nesse passeio. E foi assim que nasceu o jogo sobre um fazendeiro que precisa trabalhar para construir seu sonho do zero. Essa é a história de Harvest Moon e também, ao que parece, a história do próprio Wada.
A árvore de jogos da Natsume
Ao observar o quão simples é a premissa de Harvest Moon, chega a assustar a quantidade de jogos que foram lançados para consoles da Nintendo. Acompanhe comigo. Que Harvest Moon nasceu no Super Nintendo, você já sabe. O impressionante é notar que até hoje, no Nintendo Wii, recebemos lançamentos da série. Nessa geração tivemos Tree of Tranquility e Animal Parade, dois jogos bem semelhantes entre si, mas ainda assim bem divertidos em seus próprios méritos. Ainda no Wii, tivemos um port do simpático Magical Melody, que já havia dado as caras no GameCube. Falando em GameCube, o console foi lar de algumas das incursões mais interessantes da série, como A Wonderful Life e Another Wonderful Life, dois jogos bem ousados que contavam toda a história da vida de um fazendeiro, mostrando o seu processo de envelhecimento no campo. Fechando a lista dos consoles de mesa, no Nintendo 64 a Natsume lançou o que muitos consideram o mais bem balanceado jogo da franquia, Harvest Moon 64.A série também conseguiu a proeza de ter lançamentos para todos os portáteis da Big N. Inicialmente, tivemos uma trilogia nos moldes do jogo original para Game Boy e Game Boy Color, onde finalmente foi revelado que o nome do personagem principal da série é Pete. Depois, no Game Boy Advance, tivemos Friends of Mineral Town e More Friends of Mineral Town, um "pacote de expansão" com clima mais feminino para agradar as garotas. No Nintendo DS também tivemos uma boa safra de jogos: Harvest Moon DS, Sunshine Islands, Island of Happiness e Grand Bazaar. Por fim, o portátil do momento, o 3DS, até por ser muito novinho ainda, recebeu somente The Tale of Two Towns.
Além de todas essas entradas na série principal, temos também um bocado de spin-offs. O mais notório deles é Rune Factory, que acabou virando uma franquia com identidade própria. Nele, além de administrar fazendas, é preciso explorar dungeons e combater monstros, o que garante bastante variedade. Por fim, tivemos também alguns jogos exóticos, como Puzzle de Harvest Moon, para DS e My Little Shop, para WiiWare, que entregam, respectivamente, puzzles e minigames. Mas a maior curiosidade da série foram os quatro episódios lançados para o Satellaview (um modem via satélite) da Nintendo, uma exclusividade para os japoneses donos do Super Famicom. Ufa, haja jogo, hein? Quem olha assim até deve pensar que a Natsume tem uma árvore de Harvest Moons no quintal, e que a cada ano cai dela um novo fruto delicioso! O que você está esperando para curtir um desses suculentos jogos? Seja lá qual deles você escolher, pode ter certeza: você vai se divertir pra valer, e nunca mais vai olhar para a vida no campo do mesmo jeito.
Um conto de fadas moderno
Talvez a característica mais peculiar de Harvest Moon, e que felizmente permaneceu intocada em todas suas dezenas de sequências, seja o senso de completa tranquilidade e o eterno otimismo que o trabalho no campo transmite. Em primeiro lugar, você simplesmente não tem como ir à falência nos jogos. Mesmo que você invista nas sementes e nos animais errados, é só questão de tempo para voltar a ter lucro, já que você não precisa pagar contas e é possível vender praticamente todos os itens que encontra na natureza. Tudo que é preciso fazer para progredir em Harvest Moon é insistir um pouco em seus objetivos. Mas esse quadro idílico não significa dizer que o jogo é casual, bobinho e sem dificuldades, muito pelo contrário! Harvest Moon é uma experiência hardcore, caso você esteja disposto a entregar dias e mais dias de sua vida para fazer uma fazenda prosperar. É simplesmente legal e viciante demais observar o modo como o seu trabalho é convertido em expansões da fazenda, que sempre começa com uma pequena casa num terreno para cultivo abandonado e imundo que, no fim, caso você jogue bem, acaba dando lugar a uma casa enorme, habitada pela família que você construiu no jogo, cercada por um colorido campo cheio dos mais variados vegetais, pelo qual passeiam várias espécies de animais saudáveis e felizes.O tempo inteiro o jogo estimula e gratifica o jogador por seu trabalho e suas boas ações. Faça carinho em suas vacas diariamente, e elas darão um leite de melhor qualidade, que pode ser vendido por um valor maior. Regue suas plantas duas ou três vezes ao dia e veja as sementes crescendo com maior rapidez. Converse com os outros habitantes da cidade e logo estará cheio de amigos (e possivelmente com um interesse amoroso à vista!). Tudo dá certo quando você tem boas intenções. Perdoe-me se isso soar inocente demais neste mundo violento e caótico de hoje, mas o que torna Harvest Moon tão cativante é justamente o fato de que o jogo, possivelmente mais do que qualquer outro no mercado, consegue resgatar aqueles valores utópicos e pueris que os contos de fadas transmitiam em nossas infâncias. Em Harvest Moon não há espaço para o mal. O trabalho duro sempre se converte necessariamente em sucesso. Os humanos e os animais convivem em perfeita harmonia. A natureza prospera. Em alguma medida, todos crescemos desejando que esse tipo de vida seja verdade. Com o tempo, infelizmente surgem outras prioridades e preocupações, e acabamos deixando nossos desejos e princípios mais básicos de lado. Harvest Moon conversa com a criança dentro de você, e mostra que o campo dos sonhos sempre pode estar a seu alcance, mesmo que às vezes você se esqueça disso em sua agitada vida na metrópole.
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