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quarta-feira, 6 de março de 2013

Castlevania Lords of Shadow: Mirror of Fate (3DS)




Quando lançado em 2009, Castlevania: Lords of Shadow prometia reiniciar a saga da família Belmont contra as forças das trevas de uma forma nunca antes vista. O título, desenvolvido pela até então desconhecida MercurySteam, contou com a participação de Hideo Kojima em seu desenvolvimento e apresenta uma narrativa densa, gráficos arrasadores e uma trilha sonora épica. Contudo, o jogo foi bastante criticado por sua linearidade e também por fugir demais do estilo de jogabilidade já consagrado da série.

Mesmo assim, o game não foi um fracasso completo e foi muito mais bem sucedido que outras tentativas de revitalizar a franquia, como a do criticado Castlevania 64, por exemplo. A razoável aceitação do título conferiu à MercurySteam a chance de criar mais dois jogos da franquia: Castlevania: Lords of Shadow 2, que será lançado ainda este ano para PlayStation 3 e Xbox 360, e Castlevania: Lords of Shadow – Mirror of Fate, que está sendo lançado hoje para o Nintendo 3DS. Tivemos a chance de dissecar a versão completa do título e contamos para vocês se o game faz jus a todo o legado da famosa franquia.

Maldição familiar

No primeiro episódio da nova série, Gabriel Belmont partiu em uma jornada para tentar trazer sua esposa, Marie, de volta à vida. Para isso, o rapaz teve que enfrentar seus próprios fantasmas e os três Lords of Shadow. Contudo, o destino de Gabriel não poderia ser pior: ele não só descobre que é o assassino de sua própria esposa como também se torna o próprioDrácula ao final da aventura. O surpreendente final do jogo deu pano para a manga a muita discussão entre fãs e deixou claro que a nova saga da franquia não acabaria naquele título.

Mirror of Fate é sequência direta do game lançado em 2010 e serve de prólogo à sequência que será lançada ainda este ano. O game é dividido em quatro atos, sendo que cada um conta a história de um dos personagens controláveis. O resultado dessa combinação é um enredo sólido, que vai tomando forma e se encaixando conforme os diferentes pontos de vista dos protagonistas são revelados. A base de toda a história do jogo é fundamentada na jornada da família Belmont − que busca vingança contra Gabriel, já em sua forma maligna. Três dos quatro atos são protagonizados por membros do clã (Trevor, Simon e o próprio Gabriel). O ato restante é protagonizado por ninguém menos que Alucard, o que deixará diversos fãs da franquia extasiados. Não pense, contudo, que o forte elenco do título está lá apenas para tentar agradar e que suas participações não fazem sentido. Cada um dos personagens está no jogo por razões bem definidas, tornando o enredo mais denso, completo e envolvente.



Os atos não se desenrolam cronologicamente, mas sim da forma que a MercurySteam julgou a mais correta para que o jogador consiga unir as peças do enredo sem deixar de se surpreender com o excelente desfecho da jornada. Apesar de as histórias se cruzarem em alguns momentos, cada uma das jornadas se passa quase que totalmente por áreas distintas do castelo, o que faz com que a aventura nunca soe repetitiva ou forçada. Além disso, cada protagonista possui habilidades próprias, de forma que cada um dos atos soa diferente e ao mesmo tempo familiar.

Metroidvania, mas nem tanto...

Os títulos da franquia lançados para consoles portáteis costumam seguir a mesma linha tradicional dos jogos 2D que consagraram a série. No controle do protagonista da vez, você deve explorar o castelo de Drácula (ou o local onde se passa a aventura) enquanto aprende novas habilidades e consegue novas armas que lhe habilitem o acesso a partes ainda não visitadas do cenário. Tal mecânica de exploração funciona basicamente como a dos jogos da série Metroid, de maneira que a jornada é sempre permeada pelo senso de progresso e recompensa. Além disso, os títulos da série que seguem esse modelo tradicional contam com um sistema de níveis, tal como o de muitos RPGs, em que cada ação bem sucedida lhe concede pontos de experiência que o ajudam a se tornar cada vez mais poderoso. Sendo assim, a jogabilidade de títulos 2D da franquia é fundamentalmente calcada na exploração por meio da evolução de seu personagem.

Há vários momentos de exploração
Mirror of Fate tenta beber dessa mesma fonte, contudo, se diferencia em alguns aspectos − o que pode fazer com que os fãs mais fervorosos torçam o nariz. Não pense que o título é focado em ação desenfreada: o cenário a ser explorado é enorme, os níveis de experiência e os colecionáveis estão todos lá, mas a MercurySteam evoluiu o sistema ao transportar o excelente esquema de combate de seu título tridimensional para os ambientes 2D do portátil. É impressionante como os controles são fluidos e naturais, mesmo com os protagonistas tendo uma quantidade bem maior de movimentos do que aquela com a qual estamos acostumados a nos deparar em títulos bidimensionais da série. Para os que tiveram a chance de jogar Lords of Shadow, os controles vão parecer tão naturais que chega a ser bizarro como a MercurySteam conseguiu transportar uma jogabilidade naturalmente tridimensional para um título mais simples. Este é um feito e tanto! O jogo ainda conta com alguns Quick Time Events, mas eles ocorrem apenas em momentos chave, o que não atrapalha a jogatina e muito menos prejudica a experiência como um todo, já que são desencadeados apenas em situações que ajudam a tornar a experiência ainda mais cinematográfica e empolgante.

Cada personagem possui habilidades únicas
O maior problema referente à jogabilidade do título é justamente ligado a seus momentos de exploração. As seções de plataforma são excelentes, mas o jogo é um pouco fácil demais. Quando terminei o título, minha aventura somou cerca de sete horas e, mesmo sem me aventurar muito em busca de colecionáveis, me deparei com um índice de 80% de completude. Explorar o restante do castelo em busca do que faltava não tomou mais do que duas horas do meu tempo. É claro que boa parte disso se deve aos excelentes controles e ao muito bem pensado mapa interativo que permite que você faça anotações que facilitem a exploração, mas é inegável que o jogo é muito mais fácil do que deveria ser. Isso não o torna menos divertido ou menos épico, mas tenha em mente que, para ser aproveitado, o título deve ser encarado como uma experiência direcionada ao enredo, e não à exploração árdua e desenfreada.

Digno de console de mesa, mas na palma de suas mãos

A primeira coisa que me chamou atenção em Mirror of Fate foi o imenso cuidado da desenvolvedora em criar uma experiência cinematográfica digna dos consoles de mesa atuais. O título foi primeiramente desenvolvido em alta resolução para depois ser adaptado para a telinha tridimensional do portátil da Nintendo. Graças a isso, os personagens são extremamente bem modelados e cheios de detalhes. A movimentação deles é fluida e natural, e os cenários são grandiosos e incrivelmente bem construídos. O efeito tridimensional da tela superior do console é utilizado com perfeição, um feito que poucos títulos conseguiram realizar nesses quase dois anos de vida do portátil. Mirror of Fate se equipara ou supera facilmente Resident Evil: Revelations em nível de produção, e isso é uma grande conquista, que serve para provar que o 3DS é capaz de proporcionar experiências fenomenais mesmo não possuindo gráficos em alta definição.

O jogo possui vários momentos cinematográficos

A trilha sonora segue o mesmo caminho, sendo o tempo todo épica. Contudo, algumas composições são bastante genéricas e serão facilmente esquecidas. Mesmo assim, a maioria das melodias é espetacular, e consegue passar um clima de melancolia que poucos jogos conseguiram transmitir em meus quase vinte anos jogando videogames. Uma das composições conseguiu me tocar de tal forma que me flagrei parado no cenário só para poder apreciar a lindíssima melodia que dava o tom de minha visita àquele lugar triste, mas ao mesmo tempo lindo.

As cutscenes são magníficas e possuem um estilo lindíssimo que torna a experiência ainda mais gratificante. Elas não são feitas com gráficos da engine do jogo, mas sim com um estilo de desenho animado muito rico em detalhes que passa um clima de seriedade e emoção jamais visto no portátil até agora. O trabalho de dublagem também é de alto nível, e o jogo é totalmente legendado em português brasileiro. Durante a jornada, os personagens se deparam com pessoas mortas que portam pergaminhos contando um pouco mais sobre o que está acontecendo naquele lugar. Um desses pergaminhos é um easter egg muito divertido que conta as impressões de um personagem muito conhecido dos nintendistas que, em suas aventuras, tentou explorar aquela mansão mal assombrada.

O jogo inteiro é legendado em português

Um game para lembrar

Mirror of Fate é um dos melhores títulos já lançados para o Nintendo 3DS e uma excelente entrada da franquia Castlevania. O jogo possui certos defeitos que podem fazer com que os fãs mais fervorosos e saudosistas torçam o nariz, mas a experiência é tão gratificante, épica e cinematográfica que eu duvido que, mesmo com sua facilidade, o título não agrade a cada um dos jogadores que desejarem se aventurar mais uma vez pelas catacumbas do castelo do vampiro mais famoso de todos os tempos. O jogo é uma experiência digna dos consoles de última geração, mas na palma de suas mãos. O enredo é simples, mas envolvente e imersivo, os personagens são bem construídos e o desfecho deixará todos ansiosos para o  lançamento de Lords of Shadow 2, que dará as caras no PS3 e no Xbox360 ainda este ano. Mirror of Fate é um must-buy do console para todos que curtem uma boa aventura cheia de momentos épicos e boa jogabilidade. Vale a experiência!

Prós

  • Enredo envolvente;
  • Jogabilidade bem transportada dos consoles de mesa;
  • Quatro personagens controláveis com habilidades únicas;
  • Clima de melancolia que traz imersão;
  • Legendas em português;
  • Belíssima trilha sonora;
  • Gráficos incríveis.

Contras

  • Muito curto;
  • Demasiadamente fácil;
  • Falta de elementos clássicos pode não agradar os fãs.
Castlevania Lords of Shadow: Mirror of Fate – Nintendo 3DS – Nota: 8.0

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